Tenho andado muito pensativa sobre as coisas que me
fizeram acreditar desde sempre com relação aos cuidados com a saúde.
Sou da época em que se propagava a crença, bem
arraigada, inclusive, de que misturar leite com manga levava ao óbito. Confesso
que toda vez que escutava isso, dava graças a Deus por nunca ter gostado de
leite. Desse mal eu não morro, refletia satisfeita.
Havia outras combinações não necessariamente
alimentares que botavam medo nas meninas desavisadas: mocinha menstruada não
pode lavar o cabelo: poderia desmaiar e morrer. Muitas de nós chegamos a andar
com o cabelo em bloco (oleoso) naqueles tempos, rezando pra chegar o dia em que
poderíamos usar o bendito shampoo. Até que chegou um dia na escola em que a
“doutora palestrante” foi falar sobre coisas de mulheres para as meninas da 4ª
série e nos deu um livrinho que dizia: “pode lavar a cabeça sim!”. Ufa, que
alívio.
E o filtro solar? Não me lembro de médico nenhum
alarmando quanto aos perigos dos raios UVA e UVB. Minha memória com relação a
este aspecto registrou duas coisas que usávamos no clube: o bronzeador Tam Tom, uma coisa avermelhada que
nos causava um efeito pimentão, muito embora, aquele tom red nas bochechas me
fizesse sentir sexy... Isso por volta dos 13 anos de idade...
O outro bronzeador era um tal de rayito de sol.
Esse eu me lembro de apenas ver de longe nas mãos das meninas mais ricas. Acho
que foi uma das primeiras vezes que escutei a palavra “importado”, sem saber
muito bem que “marca” era essa... Uma amiga mais metida a saber das coisas
avisou: é do estrangeiro sua burra!
Mais tarde, lembro que o ovo se transformou num
vilão: se comer constantemente aumenta o colesterol. Para quem gostava muito, o
aviso era: coma só a clara então. A gema, só de vez em quando...
Pois é. Dia desses fuçando no meu instagram, vi uma
nutri que dizia que o ovo é o segundo alimento mais completo. Só perde para o
leite materno. Ela recomendava que o consumo do ovo fosse diário e para quem
quisesse perder gordura corporal (pasmei) o ideal era acrescentar logo no café
da manhã todo santo dia. Daí, pensei: afinal, o ovo faz bem ou faz mal? E
fiquei aqui matutando a respeito. Isso pra não falar no abacate que agora virou
o queridinho da alimentação saudável... Até outro dia, era adversário de muitas
artérias.
Mas a sensação de que fui enganada veio mesmo com
os raios solares. Durante muito tempo pregou-se que JAMAIS (com letras
garrafais mesmo) podemos nos expor ao sol sem o protetor solar. Desde a época
em que rayitos e tam tons deram lugar ao sundow, enfaticamente tem se
disseminado orientações e instruções dos doutores de que o sol faz mal, causa
câncer de pele, envelhece, etc etc etc.
Um verdadeiro veneno.
Mas como modismo pouco é bobagem, a medicina hoje
tem se voltado muito para a discussão dos inúmeros problemas oriundos da falta
de vitamina D no organismo. Assim, fazendo o meu check-up anual, descobri que
minha taxa desta vitamina é baixíssima e, hipocondria à parte, quase tive um
troço quando percebi que a minha já passou de insuficiente e chegou aos níveis
da deficiência.
A sequência natural dos fatos foi começar a
pesquisar sobre as formas de reposição. E os doutores disseram: não adianta
apenas tomar suplemento e nem esperar que a alimentação resolva o problema. Se
não TOMAR SOL TODOS OS DIAS, de preferência SEM FILTRO SOLAR, as taxas da
bendita vitamina não serão repostas a contento...
A primeira conclusão: minha geração foi
enganada. Segunda e derradeira: vou comer bastante ovo, abacate, e
me acabar no sol que tanto gosto e de quem tanto fugi. O máximo, creio, que
pode acontecer é ficar rechonchuda e bronzeada. Não ficando verde, já tá de bom
tamanho...